Crónica de Jorge C Ferreira | Queremos a Paz

Jorge C Ferreira

Queremos a Paz

por Jorge C Ferreira

 

O que falta destruir? Quantos falta matar? As armas continuam a alimentar muita gente. Os mortos não podem falar. Os feridos gemem as suas dores. A informação já não sabe para que guerra se virar. Há comentadores que se contradizem entre guerras. Uma baralhação para quem teima em estar agarrado aos canais de 24 horas de guerra.

Até o futebol perdeu tempo de antena. É muita guerra ao mesmo tempo. Chegaremos à guerra total? Chegaremos à guerra final? Chegará o tempo de não ter para onde fugir da barbárie?

Todas as guerras são estúpidas. Todo o terrorismo é uma selvajaria. Inclusive o terrorismo de estado. Houve quem fizesse normas para a guerra. O que é considerado crime de guerra? Criaram-se tribunais de onde as maiores potências do mundo faltaram à chamada. Acredito na boa vontade de quem criou tudo isto, mas acho que foi tempo perdido. A guerra é, por si só, a falta de princípios. É aí que o pior do ser humano aparece ao vivo e a cores.

Sim, sou contra todas as guerras. Sempre tentei dar a minha ajuda para acabar com elas. Hoje sabemos que muitas guerras se iniciaram com base em falsidades. Em factos inexistentes. Todos os responsáveis por tais actos e os que assinaram por baixo, a nada foram sujeitos.

Hoje temos países e países destruídos. Estados párias e o terrorismo de várias índoles a crescer. Ervas daninhas crescem onde antes havia jardins e parques infantis. Qual será o futuro dos filhos destas guerras? Dos que se viram privados de quase tudo?  Dos que ficaram sem família, sem escola, dos que nunca aprenderam a brincar?

Quantos filhos ficaram por nascer? Quantos homens deixaram o mundo sem cumprir os seus sonhos? Alguns ainda quase meninos e que não deixaram descendência. Os meninos feitos soldados à força. Crianças que aprendem a matar e, muitas vezes, são mortos em guerras fratricidas.

Entretanto, a selvajaria continua a vender nos canais do costume. As armas continuam a chegar. Era bom informar dos lucros das fábricas de armamento e dos Estados sobre este nefando negócio. Dizem que é o maior negócio do mundo, que a droga ao pé disto é brincadeira de meninos.

Parece que estamos a viver uma loucura sem retorno. Até o planeta se revolta e o clima se transforma, a terra treme, os vulcões entram em erupção e cospem a vergonha do que vêem. Uma transformação que também parece irreversível. Muitas espécies animais vão mudando de lugar para tentar sobreviver.

Andámos na escola, aprendemos a ler e a escrever. Sabemos o suficiente para nos sentarmos a uma mesa a discutir e chegar a conclusões. Saber ouvir a razão do outro. Ser tolerante. Chegar ao ponto que define a razão das coisas. Ter orgulho em ser mentor da paz. A vingança é inimiga da razão. A raiva só leva ao desespero e, muitas vezes, à loucura.

Vamos ser cidadãos de corpo inteiro. Vamos aprender a entendermo-nos. Já é tempo e é o que nos resta para viver em PAZ e para salvar o planeta e deixar alguma coisa para os nossos filhos e netos.

«Dizes bem, mas eu só vejo o fim de tudo.»

Fala de Isaurinda.

«Estamos sempre a tempo de mudar o rumo das coisas. Tu até acreditas em milagres.»

Respondo.

«Pois acredito, e também te digo que só um milagre nos poderá salvar.»

De novo Isaurinda e vai, de mãos postas e a olhar o céu.

Jorge C Ferreira Outubro/2023(410)


Jorge C. Ferreira
Jorge C. Ferreira (n.1949, Lisboa), aprendeu a ler com o Diário de Notícias antes de ir para a escola. Fez o curso Comercial na velhinha Veiga Beirão e ingressou na vida activa com apenas 15 anos. Estudou à noite. Foi bancário durante 36 anos. Tem frequentado oficinas de poesia e cursos de escrita criativa. Publica, desde 2014, uma crónica semanal no Jornal de Mafra. Como autor participou nas seguintes obras: Antologia Poética Luso-Francófona À Sombra do Silêncio/À L’Ombre du Silence, na Antologia Galaico-Portuguesa Poetas do Reencontro e A Norte do Futuro, homenagem poética a Paul Celan.  Em 2020 Editou o seu primeiro livro: A Volta À Vida Á Volta do Mundo; em 2021 Desaguo numa imensa sombra. Dois livros editados pela Poética Edições.

Pode ler (aqui) todas as crónicas de Jorge C Ferreira


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20 Thoughts to “Crónica de Jorge C Ferreira | Queremos a Paz”

  1. Ferreira Jorge C

    Obrigado Isabel, pelo seu comentário. Um comentário sempre imprescindível neste espaço. PAZ. Grato. Abraço

  2. José Luís Outono

    Fantástica análise deste mundo desgovernado, por entre guerras absurdas e ideologias sem nexo, onde o simples gatilho de uma arma é a ordem inconclusiva e pragmática de redondo zero cerebral … ou doutrina acéfala.
    Olho crianças sofredoras, no meio de lagos sanguíneos … e as manifestações de apoio à demolição acontecem , via negócios de armamentos.
    Vejo-me num mundo perdido , e num repente olho para duas filhas e uma neta … e pergunto:
    – Como será o amanhã?
    Que a PAZ vença a guerra, e a cultura pacífica de apoio e união seduzam o amanhã.
    Abraço estimado amigo, que muito admiro!

    1. Ferreira Jorge C

      Obrigado José Luís, meu Amigo Poeta. Uma vergonha o que estamos a viver. Temos de lutar pela paz. Um grande abraço.

  3. Branca Maria Ruas

    Os horrores das guerras!
    Dó só de imaginar o sofrimento de tantos inocentes.
    E tanta gente a ganhar com tudo isto…
    Cada vez sou mais intolerante com a violência.
    Os fanatismos, o desejo de poder, a ganância
    Mas não se pode responder às agressões agredindo também.
    É urgente saber ouvir. É urgente saber ceder. É urgente parar com tantos crimes.
    É urgente a PAZ!

    1. Ferreira Jorge C

      Obrigado Maria. Tens toda a razão. Não foi por este mundo que lutámos. Onde chegámos! Abraço grande.

  4. Grande reflexão sobre a actualidade!
    Vivemos tempos muito conturbados e muito perigosos para todos nós e para o planeta.

    1. Ferreira Jorge C

      Muito obrigado.

  5. Coutinho Eulália Pereira

    Crónica em tempo real. O mundo cruel em que vivemos.
    Matar cobardemente em nome da religião. O mundo a assistir.
    Os órgãos de comunicação repetem imagens, fazem reportagens até á exaustão. Os comentadores dividem opiniões. Não é possível! Não pode haver desculpa para os crimes de guerra a que assistimos.
    O meu coração chora de dor. Não era este o futuro que queria para os meus netos.
    Obrigada Amigo por estar desse lado.
    Grande abraço.

    1. Ferreira Jorge C

      Obrigado Eulália, minha Amiga. Chegamos a sentir vergonha alheia. As incompreensíveis guerras em nome das religiões. Que tempos estes. Abraço grande

  6. Filomena Geraldes

    Um minuto de silêncio.
    pelos corpos que carregamos inertes nos braços
    pela violência que cospe fogo
    por todos quantos ordenam massacres
    pela fuga sem norte
    pelo lado obscuro da humanidade
    pelo comércio sujo do armamento
    pelas atrocidades cometidas
    todas elas.
    pela carne para canhão
    pela retaliação atroz e inexplicável
    por confrontos, por uma aberração que dá lugar cativo à morte.
    por tudo quanto apodrece no coração dos governantes.os ideais de paz.os acordos de não agressão.
    pela destruição de cidades sem nome.
    não só um minuto de silêncio.
    a primazia à Vida!

    uma crónica sublime.
    exímia.
    hábil.
    esclarecida.
    talentosa.

    1. Ferreira Jorge C

      Obrigado Mena, pelo teu belo e sentido comentário/poema. Excelente. Abraço enorme

  7. Isabel Soares

    Uma crónica sobre o horror no mundo. Texto desencadeado pelos últimos acontecimentos repletos de imagens e notícias de terror. Vividos por pessoas concretas, sociedades concretas. È patente a perplexidade e a dor solidária. Também o “olhar” perdido, impotente e de sofrimento que perpassa o texto.
    Tanta guerra, tanta maldade, tanta indiferença face à morte, face ao abandono, face aos danos. Uma” barbárie” afligida a seres inocentes. A razia total e ilógica. Diz numa estranheza própria de quem preserva saúde moral. De quem luta com armas legítimas (tolerância, aceitação, razão, empatia… pelo outro(s). Um pesadelo em si porque humano que embora sabendo de homens não humanos precisa de acreditar que ainda se podem transformar (precisamos todos em prole da nossa própria sanidade mental – em causa na inserção de um mundo doente.
    Palavras-grito de desesperança e esperança simultaneamente. Retalhado nos seus valores e princípios reflecte sobre a natureza da guerra(s) e as suas consequências para a humanidade. Resulta necessariamente uma ausência na definição. Problemas e acções vãs e assassinas sem álibi, no desenrolar do seu escrito. Interrogacções sem fim e sem resposta (o ilógico não acarreta compreensão). Traça-nos um diagnóstico sem prognóstico previsível. A impossibilidade de um futuro sem gangrena pensado, mas não dito sem rodeios perante o temido enforcamento de todos os que habitam este mundo a sangrar constantemente.
    Imperativo parar. Categoricamente( Em lágrimas viscerais o afirma). Uma das conclusões deste texto dramático (pois o outro possui o mesmo valor ontológico que nós, mesmo na diferença há esta igualdade transcendental. Tão bem afirmado (quem o escutará?). Certo, no entanto, que danos irreparáveis aconteceram. E para estes não há retrocesso. O apelo a um travão imediato desesperado, constante no texto. De alguém comprometido com o mundo. Um mundo que almeja ver reger-se por normas éticas universais a in-violar . Clamando a racionalidade, como processo cognitivo, que poderia (poderá?) mudar o rumo de uma realidade caótica, animalesca. Da razão ao conhecimento–“meios” para salvar a humanidade numa natureza que também grita e mostra revolta.
    Palavras inteiras e autênticas a dizer o indizível. E a possibilidade (?) no emergir da ordem perante um caos de tortura e aniquilação de seres humanos, sem qualquer “regra”, compaixão, empatia. Insanes em “liberdade”.

  8. Cecília Vicente

    Nunca como agora o passado está presente, quase ninguém sabe como aconteceu, acontece a toda a hora pelo mundo. A calamidade presente, memórias esquecidas, o tempo não as apaga somente adormecem consciências. Do paraíso para a guerra, irmãos Caim e Abel os primeiros, curiosidades que não se sabem verdadeiras, dizem ser o primeiro assassinato da história,e daí veio todo o mal ao mundo. Diz quem leu, diz quem acredita, foram tantas as mãos que escreveram que acredito quem escreve acrescenta sempre a sua opinião. E é de opinião em opinião que fazem das guerras muitas oportunidades, todas elas vantajosas para lucro imediato no fornecimento de armas. Às vezes, quem é contra é o principal fornecedor. Não às guerras slogan desgastado pelo tempo de toda a história, “dizem” que a história se repete, assim será a acreditar que nada mudou, nada mudará. Às crianças sobreviverem para a continuidade do mundo a reconstrução, apenas e só o que não é pouco. Nós, alguns fizemos e demos consciência a tantos que encolheram os ombros: É lá longe, nunca chegará aqui… Tal como o Richard Bach escreveu: Não há longe nem distância ” A vida acaba e recomeça, mas jamais será igual nem a mesma, apenas vive em cada um o esquecimento que lhe convém… Abraço meu muito amigo Jorge, abraço que nunca se esqueça da nossa passagem por cá neste nosso mundo…

    1. Ferreira Jorge C

      Obrigado Cecília. Que comentário tão importante. Grato por estares aqui. O meu abraço.

  9. Maria Luiza Caetano Caetano

    Obrigada, meu querido Amigo. Queremos mesmo a paz. Já li ontem o seu apelo á paz e a sua brilhante análise. Admiro muito a verdade das suas palavras. A guerra é o fruto da falsidade humana. Eu não quero perder a esperança de um milagre. É bom ouvir, Isaurinda. E dizer-lhe, a si querido escritor e poeta como é sublime a sua Crónica. Lamento, tanta dor, tanto sofrimento bárbaro. Que a paz se instale no coração dos homens. Abraço imenso.

    1. Ferreira Jorge C

      Obrigado Maria Luiza, pelo se comentário tão necessário a este espaço. Sempre importante. Muito grato. Abraço grande

  10. Fernanda Luís

    Olá Jorge!
    O que tenho a comentar?!
    A crónica é simplesmente excelente. Perfeita.
    Concordo incondicionalmente com todas as ideias expostas.
    Sinto que carregamos toda a vida com pesos demasiado áuduos, penosos, sem culpas. Não me venham dizer que a responsabilidade é de todos. Grande barrete.
    Apre, já não tenho forças e pachorra… tento arranjar estratégias para defender a saúde mental.
    Queremos a paz, sim. Só que agora cheguei ao ponto de me questionar sobre o conceito de paz, tal é o vazio… Desculpe.
    Acredito que este meu estado anímico não dure pra sempre.
    Abraço

    1. Ferreira Jorge C

      Obrigado Fernanda, minha Amiga. O seu comentário é sempre importante. A minha gratidão. Abraço grande

  11. Silva Claudina

    Amei o teu texto querido Amigo Poeta Jorge C Ferreira! Acredito que só um milagre nos poderá salvar! O Mundo é de TODOS!

    1. Ferreira Jorge C

      Obrigado Claudina. Tão bom estares sempre presente. A minha imensa gratidão. Abraço grande.

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